quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Desafio

O coração acelera
Ao simples toque
Das suas mãos
Sobre minhas costas despidas
Sentir o calor
Que emana do seu corpo
A cada passo mais perto
Sentir a sua respiração
Sem compasso definido
O sopro quente
Que acende a luxúria
Lascívia de corpos que se desejam
Mãos que percorrem
Bocas que se encontram
Enrosco de línguas
Suspiros...
Seu cheiro
Seu corpo
Tudo desperta um desejo louco
De amar até amanhecer
Sem pressa
Cortinas fechadas
Para que o sol
Não nos lembre a hora de partir
Esquecer o tempo lá fora
Poder a noite prolongar
Sem perceber a aurora
Como eu queria
Ter você agora...

Malu Aguiar

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Adormecer do sol

Hoje o sol adormeceu
Tão triste quanto uma criança
Que deixa cair o sorvete
Olhando para o chão
Com a concentração
De um cientista
Num momento “Deus”
Na esperança do tempo voltar
Conseguir evitar a queda
E poder desfrutar até o fim
Daquela maravilha tão desejada...
O cinza da tarde lúgubre
Cheia de reflexões
E lembranças
Que insistem em ficar
Entristecer, aborrecer, adoecer...
Me perdi no seu olhar
No seu jeito de ser
Tão seguro
Tão sério
Tão louco e absurdo
Já disse mil vezes que não quero
Repeti para mim tantas vezes
Que quase me convenci
Mas agora já resolvi
Vou sentar e esperar
Quem sabe um dia
Tudo isso vai passar...

Malu Aguiar

Lembranças coloridas

Essas lembranças boas
Insistem em preencher minha tarde
De um colorido incomum
Capítulos de uma novela
Sem um enredo definido
A cada dia um novo fim...
Ainda lembro do dia
Em que você
Sorriu pra mim
Noite fria
Mãos geladas
Desculpa perfeita
O primeiro toque
Meio acanhado
Mas tão aconchegante
Abriu uma porta
Difícil de ser fechada
Por mais que eu tente
Parece estar emperrada
Teimosia de coração inconsequente
Faz sempre o que não pode
Só para machucar a gente

Malu Aguiar

Sonhos

Então você volta
Com o olhar
De quem nunca partiu
E deixou em mim
Saudade de nada
Por que nada tenho
Nada temos
A não ser essa sensação
De nos conhecermos
Há mais tempo
Do que a verdade
Como posso
Do nada
Sentir saudade?
De você sentir vontade
Da sua boca
Sentir a sede dos náufragos
Batalha de línguas
Corpos suados
Apogeu...
Mas então
Ao despertar
Vejo que foi apenas sonho
E que nada disso é meu.

Malu Aguiar

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O palhaço

E ao te ver
Tive certeza de que
A vida me pregaria uma peça
Dessas dignas de um prêmio
Mas no meu caso
É o prêmio máximo
De um dramalhão bem mexicano
Sabe aquele troféu Framboesa?
É o mais alto grau do Oscar!
Atravessei a calçada
Sim, aquela mesma
Que jurei que atravessaria
Mas fui no sentido oposto ao pensamento
Caminhão desgovernado
Invadiu o sinal vermelho
E me pegou na contramão
Machucou
Mas deixou uma lição
É necessário
Que a palavra seja mantida
A loucura seja contida
E aproveitemos mais a vida.

Malu Aguiar

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Saturno

As estrelas gritam em silêncio
Os segredos da noite
Preservando o secreto
De quem a desfruta
Amantes
Velhos que passeiam de mãos dadas
Relembrando um passado distante
De alegrias e desventuras
Adolescentes
Que se encontram em segredo
Um beijo roubado
Um abraço fortuito
Um desejo contido...
Pedirei à Lua
Que uma leve brisa
Toque o seu rosto
E transmita o aconchego
Do frescor noturno
Queria tanto
Te levar pra Saturno...
Um outro planeta
Outro lugar
Sentir sua mão me tocar
E poder te dizer
Que é com você
Que eu quero estar.

Malu Aguiar

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Guardarei com carinho

Esse vazio preenchido
Essa solidão acompanhada que você deixou
Esse desapontamento
Cheio de saudade
A falta que faz
As suas manias
As minhas manhãs
O “bom dia”
“Fica bem, se cuida...”.
Eu não sei me cuidar
Sou como uma criança que se perde
Senta no chão e chora
À espera de uma mão
Sua mão!
Um abraço apertado
O calor que sufoca os medos
Talvez eu não seja mesmo normal
Talvez sejamos mais do que diferentes
Extremos opostos
Paralelas
Mas eu sei
Eu sinto
Que certas coisas insistem em ficar
O cheiro
O toque na pele
O olhar carinhoso
Sorrir sem motivos...
Mas eu cansei
De tentar fazer você entender
Que tudo o que quero
É você para me proteger.

Malu Aguiar

Sem razão

Traição!
Bradou o bichinho da consciência
Ao recobrar os sentidos
Depois do anestésico
Do efeito colateral
Causado pelos seus beijos...
Traída pelo corpo
Que não resistiu
Ao toque das suas mãos
Pelas lembranças
Pela canção cantarolada em silêncio
Enquanto você me olhava
Sem dizer uma só palavra
O seu olhar perdido
Não sei se pensativo
Ou arrependido
Me deixou sem entender
Sem saber o que pensar
O que dizer
Sensação de vazio ao acordar
E por mais que eu tente não recordar
A cabeça insiste
E a música continua a solfejar...

Malu Aguiar 

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Casa vazia

Quando acordei
E olhei ao redor
Senti a orfandade
Dos seus olhos
Seu sorriso
O dia fez-se noite
O sol escureceu
Permaneceu em silêncio...
Como alguém que chora baixinho
Recolhi-me pensativa
Tentando entender...
Mil coisas ao mesmo tempo!
A sua partida
As minhas renúncias
As suas ausências
Nem sempre justificadas
Por que partiste tão de repente?
Respirei fundo
Até ficar tonta
Para levantar-me
Não me senti pronta
Esperei...
Até que o sol desaparecesse
Não consegui encara-lo de frente
Vergonha...
Será que fui
Mais uma vez incompetente?
As sombras percorrem a casa
Retratando o movimento
Dessa tarde cinza
De amores perdidos
E desencontros sem fim. 

Malu Aguiar