quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Carta de um suicida

Parto deixando
Toda dor
Toda mágoa e desamor
Que um dia habitou em mim
Deixo as sobras de sorriso e esperança
Que, infelizmente
Não foram suficientes
Para nutrir minha existência tão faminta
De coisas que não se compra
Que só temos se for por doação
Deixo as horas frias
As lágrimas encobertas
Pelos cobertores
Ouvintes das madrugadas
Parto com o desejo de que fiques bem
Sem remorsos, sem dor, sem culpas...
Pois nada disse é por você
É culpa do destino
Eterno brincante
Mago Arcano cheio de encantamentos
Truques
Que cegam os olhos de seres frágeis
Que se alimentam de esperança e boa-fé
Começo a sentir o vazio do fim das horas
Um medo ansioso pela libertação
Pois só ela
Tem um antídoto
Para curar o coração...


Malu Aguiar

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Eu não sei

Esperando feito boba
Bem em frente ao seu portão
Tendo nas mãos
Um despedaçado coração
Só um beijo seu para curar
Por favor
Não me faça esperar
Não me faça implorar
Não estou me vitimando
Eu não quero piedade
Tudo o que eu quero
É que você mate essa saudade.

Malu Aguiar

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Olhos de vidro

Ele brincou assim
Como quem nada quer
Mãos e olhos
Homem e mulher
Então percebi
Através dos olhos de vidro
Que não era inocente
Brincadeira nem nada
Fagulha
Fogueira
Pensamentos em devaneios
Flashes, quadros, mente...  
Calor transferido
Das mãos quentes que aconchegam
Mirada
Um cochichar sem palavras
Mas que disse tantas coisas...
Abraço apertado de despedida
Vontade de ficar
Quem sabe aproveitar um pouco mais
Minutos, segundos
Quem sabe chegar mais perto
Estreitar ainda mais o abraço
Sentir seu hálito quente mais perto
Mais perto, mais perto...
E sentir o frescor das gotas
Que molham o deserto.

Malu Aguiar

domingo, 14 de setembro de 2014

Infinitos e razões

As lágrimas já secaram
O Sol já nasceu e se pôs
Sei lá, umas mil vezes?
Não sei o que ainda sinto
Não sei por que meus olhos ainda marejam
Quando ouço aquela canção
Sim, aquela que você cantou
Enquanto estávamos sentados, juntinhos
Vendo o sol se pôr
Enquanto achávamos que seria eterno
Não sei por que ainda corre um arrepio
Um frio que percorre todos os meus ossos
E transforma-se num suspiro
Num sorriso bobo
Fruto de algum momento
Que paira nas lembranças
Como asteroides numa Via Láctea
Vez em quando vem e se choca com a minha realidade
Depois de tanto tempo
Tanta gente
Tantos acasos
Você ainda surge em mim
Sem prévio aviso
Eclipse lunar
Vem
Me cobre, me ofusca
Apaga por alguns minutos
Minha pouca sobriedade
Depois vai embora
Deixando apenas saudade.

Malu Aguiar